Incontinência Urinária é a perda involuntária da urina. Ela pode acometer até 44% das mulheres após a menopausa e 75% das mulheres idosas. A estatística brasileira mostra, outrossim, que de 11 a 23% das mulheres apresentam esse distúrbio. Ademais esse problema traz impacto negativo significativo na qualidade de vida das pessoas.
Ressalto também que ela é muitas vezes negligenciada, considerada normal, conforme discutimos no post: É normal e mulher perder urina? Assim, um estudo em uma população de meia idade, mulheres não se queixaram de incontinência urinária para o médico espontaneamente. Entretanto quando foram diretamente questionadas, 53% delas apresentavam o problema.
Existem diferentes tipos de incontinência urinária, cada uma com seu tratamento. As mais comuns, sem dúvida, são a incontinência de esforço e a incontinência de urgência, associada à bexiga hiperativa. Neste texto tratarei sobre a incontinência urinária de esforço.

O que é a incontinência urinária de esforço?
É a perda involuntária de urina, quando uma pressão é transmitida à bexiga por um esforço abdominal. Ela tanto pode ser leve, quando há perda apenas com tosses vigorosas, espirros ou esforços maiores, quanto pode ter apresentações mais severas, com perdas ao pegar sacolas de mercado ou levantar-se de uma cadeira ou da cama.
Por que ela acontece?
Vamos primeiramente conhecer a uretra, o canal por onde urinamos. Na figura abaixo mostramos como seria a uretra cortada transversalmente.

A camada mais interna, assinada pela letra “M”, é a mucosa vesical. Ela fica mais fina conforme os níveis de estrógeno, um dos hormônios femininos, diminui. Portanto, após a menopausa, essa mucosa contribui cada vez menos para a continência. As camadas assinaladas por “MU” e “RS” são músculos que, ao contraírem-se, fecham a uretra e contribuem para segurar a urina.
Na próxima figura, vemos os arcabouços que dão sustentação à uretra: tecido uretropélvico e ligamento pubouretral. Uma frouxidão ou ruptura desses tecidos atrapalham a contenção da urina. Não somente a idade, como também gestação e partos vaginais podem contribuir para a disfunção dessas estruturas.

Outros músculos e ligamentos também interagem na região pélvica. A Teoria Integral, desenvolvida por Petros e Ulstem, propõe que essa interação, quando ocorre de maneira harmoniosa, mantém a continência urinária e a sustentação de órgãos pélvicos.
Quais os fatores de risco para Incontinência Urinária de Esforço?
- Idade: é o fator mais importante e não modificável para o aparecimento da incontinência urinária de esforço. Ademais, conforme os anos passam, é comum a evolução para incontinência urinária mista – a saber, quando há incontinência de esforço associada a incontinência por urgência.
- Institucionalização e limitação de atividades diárias: mulheres institucionalizadas e com restrições a atividades usuais apresentam decerto mais perda de urina.
- Gestação e via de parto: a gestação aumenta a chance de um futuro quadro de incontinência. A Cesariana mostra uma vantagem em relação ao parto normal, ao prevenir futura incontinência de esforço. Todavia, essa vantagem pode ser perdida com apenas um parto vaginal. Bebês maiores, também parecem contribuir para a ocorrência de incontinência. Outros aspectos relacionados à gravidez são o número de partos e as pacientes com gestações em idades mais precoces.
- Raça: mulheres caucasianas certamente tem maior risco de ter perda involuntária de urina quando comparadas a afrodescendentes e orientais.
- Obesidade: o índice de massa corpórea e a intensidade de perda urinária estão diretamente relacionados. A boa notícia é que perder peso ajuda a melhorar a continência.
- Outros fatores: cigarro, terapia de reposição hormonal via oral e comorbidades (diabetes e depressão são as mais comuns).

Diagnóstico de Incontinência de Esforço
Em grande parte dos casos, o diagnóstico da incontinência urinária de esforço é clínico, ou seja, o médico ao conversar e examinar a paciente chega à conclusão de qual é o problema.
É importante caracterizar os sintomas e fatores associados a incontinência de esforço, com o intuito de chegar a um diagnóstico acurado:
- Ela ocorre realmente e somente com esforço?
- Ou acontece uma vontade de mictar, que é difícil de segurar?
- Há perda contínua?
- Quais esforços desencadeiam a perda urinária?
- Qual a quantidade de perda?
- Qual o impacto na qualidade de vida da paciente?
- Quais os fatores de risco presentes?
- Há prolapso genital concomitante?
Examinar a mulher também é fundamental para: constatar objetivamente a perda urinária, diagnosticar e caracterizar prolapsos concomitantes, bem como ver como está a mucosa da vagina (lembre da figura com a letra “M”) . Através de algumas manobras, é possível também tentar caracterizar melhor onde é o defeito mais importante que levou a perda de urina.
Em casos de Incontinência Urinária de Esforço típica:
- Há fatores de risco.
- Perda é somente com esforço e foi vista objetivamente com exame físico.
- Ausência de outros sintomas miccionais, inclusive que levante suspeita de infecção urinária.
É possível concluir o diagnóstico e propor um tratamento à paciente.
Exames Complementares
Contudo, nem sempre é isso que ocorre. Por isso, muitas vezes nos valemos de exames complementares como:
- Exame de urina para descartar infecções
- Exames de imagem quando há suspeita de cálculos ou neoplasias.
- Avaliação Urodinâmica, com a finalidade de caracterizar melhor a perda urinária, além de documentar a queixa objetivamente. Veja o post: Como a urodinâmica ajuda o Urologista para entender mais esse exame.

Creio que já foi muita informação, não? Entendemos o que é incontinência urinária de esforço bem como sua prevalência e seus fatores de risco. Além disso, vimos como são os mecanismos para armazenarmos urina sem perdas. Por fim, assimilamos como o urologista avalia a paciente, além dos exames muitas vezes solicitados. Se você não leu, não deixe de visitar o post: Como a urodinâmica ajuda o Urologista, para ver como é uma urodinâmica. No IUP temos equipe especializada em urologia da mulher e podemos oferecer um atendimento técnico, empático e resolutivo. Por falar em resolução, veremos em um próximo post, as opções de tratamento para incontinência urinária. Até lá.
2 comentários
bedava · 12 de janeiro de 2021 às 06:43
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Tratamento da Incontinência Urinária de Esforço | Urologista - Dr. Tiago Aguiar · 15 de agosto de 2020 às 14:25
[…] tratamento da incontinência urinária de esforço é o assunto agora. Depois de discorrer sobre o que é a incontinência de esforço e como é feito o diagnóstico, vamos entender agora o […]